A Mosca

 A MOSCA

As coisas até que iam bem lá em casa. Tinha tido um dia produtivo, mais um desses sábados que a gente pega para descontar as frustrações por uma semana quase totalmente improdutiva, e estava deitado em minha cama com a enorme janela do quarto aberta para deixar circular um pouco de ar. Dizem que este é um bom hábito... Mantem o ambiente arejado, reduz a sensação de enclausuramento própria da permanência, por qualquer período, em ambientes fechados... Enfim, pode te fazer muito bem, é o que dizem.

Mas sabe o que nunca fazem? Nunca te falam das moscas!

Não tenho medo de moscas. Que tipo de homem eu seria se tivesse medo daquelas coisinhas imundas? Não dos melhores, tenho certeza... Não que eu negligencie ou ignore, é claro, as inúmeras enfermidades que seus frágeis corpos velozes carregam; é só que, para mim, moscas simplesmente não são motivo de medo, porra! É difícil assim de entender? É só que elas me enojam e... me irritam, as malditas! Vou dizer uma coisa: se minha mente vinculasse de forma automática o ato de abrir janelas à profunda irritação que toma conta de cada nervo de meu corpo quando a primeira mosca entra no ambiente, jamais abriria qualquer janela em qualquer canto da porra desse mundo. Não sei que diabo toma conta de mim para que eu decida abrir a janela para o ar circular.

O ar já não estava circulando antes? Eu possuo alguma habilidade sobrenatural que me permite viver sem oxigênio ou algo assim? E se sofro com perturbações mentais decorrentes do enclausuramento, garanto que me sinto muito mais perturbado com moscas voando ao meu redor, de pirraça, repetindo incessantemente aquele irritante zumbido que, juro por Deus, me soam exatamente como mil tiros de fuzil numa favela qualquer – e eu garanto que, em algumas noites, isso é algo que eu prefiro esquecer.

Abrir a janela... Tsc... Eu devo ser mesmo algum tipo especial de idiota...

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