Prelúdio
Quem escreve sabe que esta não é uma tarefa fácil - ou talvez eu seja apenas um mal escritor.
Eu não sei sobre o que irei escrever aqui, mas creio que a maioria de meus posts serão histórias (provavelmente curtas) e análises de mim mesmo e de meu mundo.
Em carne viva
Trouxe para o ano que inicia o ocaso criativo que tomou conta de mim a partir de meados de 2018. Dizem que eu tenho potencial para ser feliz e, como potenciais existem para serem realizados, escrevo para realizar o mundo que tenho na cabeça - de alguma forma, escrevo para realizar-me. Sinto que não tenho existido. Desconheço-me. Sinto que não sei mais escrever, o que faz sentido levando em conta que também sinto que não sei mais ler, ouvir ou assistir. A esses quatro pilares de minha vida (a escrita, a leitura, a música e o cinema/televisão) somaria o pensamento e a interação, mas também acho que não sei mais pensar ou interagir. Os enlatados que tenho consumido compulsivamente transformaram-me em algo que não quero ser: um mero consumidor e, pior, um consumista.
Talvez eu devesse ter previsto isso: desde que comecei a trabalhar, minha incapacidade de guardar dinheiro ou administrá-lo bem apontavam que eu era um consumista doente, mas até agora não tinha relacionado isto ao estado em que me encontro, de quase completa confusão, ócio e incapacidade criativa. Consumi demais e agora estou sendo consumido. Tornei-me um burro. Aliás, preferia ter tornado-me burro: tornei-me um pseudo-intelectual, e meus inimigos gostariam muito de ler isso. Gostaria que lessem, mas acho que me preocupo mesmo é com os que gostam de mim.
Muito dessa sensação de que virei um falso alguma coisa talvez esteja relacionada, também, à escrita que me esforço para desenvolver. Posso ter me tornado simples demais. Num afã de me fazer ser entendido... Corrijo: num afã de escrever menos, passei a escrever pouco demais e faço isso no automático. Incomodo-me quando escrevo muito mesmo quando escrevo peças literárias. Eu sou tão sugestionável... Eu, que havia dito em 2013 que o vestibular havia sido a última vez em que escrevia para alguém.
Mas isso não significa que eu seja sempre tão simples e sempre tão natural. Escrevo este trecho após ter introduzido a palavra "desígnio" no penúltimo parágrafo, palavra que soou perfeitamente colocada, mas bem trabalhada demais, de modo que julguei necessário, para ser justo com o leitor, fazer este adendo: nunca fui diagnosticado com nenhum transtorno psicológico (outro presente que a maioria das pessoas nesse país recebem por falta de amparo psicoterapêutico), mas qualquer psicólogo taxaria minha escrita de bipolar. Escrevo umas linhas bem, escrevo algumas mal, ponho umas palavras pomposas aqui, outras rimas ali, mas é tudo sempre, em alguma medida, natural. Quase nada meu é rebuscado, salvo para evitar a repetição. Ainda não escrevo por profissão, me deem uma folga.
Eu nasci para ser sujeito de testes
Saliento, contudo, que meu consumismo sempre se referiu a coisas fúteis: junk food, em sua maioria, aparelhos eletrônicos e, mais recentemente, drogas e festas. É interessante que apenas após ter "futilizado" algo tão precioso quanto as artes (um crime!) tenha verdadeiramente percebido o perigo da sociedade consumista a que estamos expostos.
Assim, jamais deixei de tentar me enriquecer culturalmente. Por diversos motivos possíveis (eu sugeriria insegurança, pobreza, ausência paterna e exacerbado protecionismo materno), boa parte da cultura que cresci consumindo era intelectualizada. Alguns filósofos, alguns matemáticos, quase todos clássicos... Acho que esse é um bom panorama do meu desenvolvimento enquanto sujeito cultural.
("Sujeito cultural"... Onde eu li isso? De toda forma, a Internet revela que o "sujeito cultural" não existe - e não, não há nenhuma complicação nisso, é só que, enquanto expressão técnica de alguma área das Ciências Humanas, não há isso de "sujeito cultural". Existe, sim, o "sujeito sócio-cultural", cuja definição não encontrei com tanta facilidade - e tenho que me contentar com isso)
Aliás, sujeito cultural é uma expressão equivocada: usarei apenas sujeito. Portanto, esse é um bom panorama de meu desenvolvimento enquanto sujeito. O problema é que às vezes sinto que tanta cultura, tantos livros, tanto aprendizado não me serviu de quase nada - o que pode ser uma qualidade de todo homem culto, incansável na sua busca por conhecimento e sempre ciente de sua pequeneza diante do mundo, mas também pode ser uma mera observação da realidade, isto é, que eu não sei mesmo absolutamente nada. Estou mais tendente ao primeiro que ao segundo, mas a princípio me parece que as duas coisas são, na verdade, uma coisa só (e, nesse caso, estou fazendo tempestade num copo d'água).
Meu estilo de escrita é raso e chato e continuará sendo até eu me sentir seguro o suficiente para dizer o contrário, mas estou satisfeito com o resultado do que escrevi. Apesar disso, preciso adicionar que tenho em mentes (=penso em) não recorrer a minhas costumeiras pesquisas sobre palavras e sinônimos para decidir o que escrever a fim de manter o natural fluxo de ideias e tentar resolver os problemas que mencionei. Certamente falharei neste desígnio, mas há males que vem para o bem...
Por fim, meu próximo post será referente ao trecho de um livro que pretendo iniciar. Só Deus sabe de que se trata e deixo ao diabo decidir se a proposta seguirá em frente ou não. De um jeito ou de outro, este texto já está me cansando, o que indica que sua qualidade irá se deteriorar muito se continuar escrevendo, razão pela qual encerro, aqui, meu prelúdio. Deixem a música rolar!
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