Ricardo e Tereza - Parte 1


“Quantos anos você tem?”, perguntou Ricardo, procurando aqueles olhinhos castanhos.
“19”, disse Tereza, olhando para a direção contrária, completamente desinteressada. Ricardo se ajeitou na grama, pigarreou e continuou:
“Ah, legal, eu tenho 22”, disse, pensando no que diria a seguir. Ele estava nervoso e não sabia direito como conversar com garotas. “Elas são como garotos”, todos lhe falavam, mas aquilo não era verdade: perto de garotas ele deixava de ser um garoto e se tornava algo diferente do que era ao lado de outros meninos (e, ao que tudo indicava, isso era um problema delas, não dele).
“Você não acha essas luzes meio... estranhas?”, ela sussurrou como que para o sol, que se punha e desabava sobre o oceano, enegrecendo o verde da grama sobre a qual estavam sentados. Havia muita gente ao redor, mas, por razões diferentes, nenhuma daquelas pessoas interessavam a Ricardo e a Tereza. Tereza contemplava o milagre da natureza e Ricardo contemplava o milagre de Tereza, ambos perdidos em seu próprio mundo santo.
Tanto tempo se passou entre a pergunta de Tereza e a resposta de Ricardo que, quando ela virou-se para olhá-lo, este olhar pareceu-lhe de desejo. Não era: Tereza esperava uma resposta. Bastava uma descortesia para desconserta-la e tirá-la de seu mundo. “Você não acha?”, ela repetiu. Tirado de seu transe, Ricardo concordou, o que satisfez Tereza, que voltou a olhar para o céu.
Ricardo tentou olhar para Tereza, mas estava nervoso com toda a situação: não sabia se poderia beijá-la. Não sabia se podia olhá-la – e, na verdade, não sabia sequer se podia querê-la. A escuridão passou a perturbá-lo e todos os sons intensificaram-se em seus ouvidos. Ali tornou-se, então, o pior e melhor lugar do mundo. Quis fugir, mas as pernas não obedeceram; quis ficar, mas a mente o levava longe. Ricardo estava no limbo. Sentiu-se sendo jogado contra uma parede de espinhos: os choques pareciam-lhe cada vez mais intensos e a morte, cada vez mais certa. Talvez não morresse ali e naquele instante, mas perguntou-se quantas outras vezes estaria disposto a passar por aquilo. Uma bala poria fim àquilo tudo. Mas onde conseguiria uma arma? Lamentou um milhão de vezes ter ido àquele encontro. Deveria ter ficado em casa, deveria ter aproveitado o dia para si mesmo, como vinha fazendo nos últimos meses. “Diabos!”, pensou.

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