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A Mosca

  A MOSCA As coisas até que iam bem lá em casa. Tinha tido um dia produtivo, mais um desses sábados que a gente pega para descontar as frustrações por uma semana quase totalmente improdutiva, e estava deitado em minha cama com a enorme janela do quarto aberta para deixar circular um pouco de ar. Dizem que este é um bom hábito... Mantem o ambiente arejado, reduz a sensação de enclausuramento própria da permanência, por qualquer período, em ambientes fechados... Enfim, pode te fazer muito bem, é o que dizem. Mas sabe o que nunca fazem? Nunca te falam das moscas! Não tenho medo de moscas. Que tipo de homem eu seria se tivesse medo daquelas coisinhas imundas? Não dos melhores, tenho certeza... Não que eu negligencie ou ignore, é claro, as inúmeras enfermidades que seus frágeis corpos velozes carregam; é só que, para mim, moscas simplesmente não são motivo de medo, porra! É difícil assim de entender? É só que elas me enojam e... me irritam, as malditas! Vou dizer uma coisa: se minha m

Poemas curtos - Revisita 01

No dia em que eu for embora, Quero ir sem nada E deixar de lado todo esse peso Guardado numa mala, Que deverá ser jogada do alto de um precipício Até que se exploda E meus problemas Finalmente morram comigo Lentilhas não me atraem. O meu negócio é feijão, Preferencialmente com arroz E entupido de farinha, Acompanhado de um peixe bem frito Que é pr’eu não esquecer da infância E do grandessíssimo esnobe que eu sou Ontem à noite voei sozinho. Não que já tenha voado acompanhado, Mas queria registrar a informação, Caso alguém queira saber. Talvez eu esteja Pegando o jeito de escrever De novo Ou talvez eu seja horrível E não saiba escrever bem Assinado, Um ovo Perdoem-me a indisposição, Mas é que hoje eu acordei triste E a tristeza já tomou conta de mim Em tal medida Que eu já não sei ser outra coisa Só sei ser triste, E ocasionalmente chato Escrevo poemas curtos Porque não sou maratonista De poemas longos Hoje acordei chorando E só percebi por que Quando lembrei Que você morreu Londres é ci

Uma breve crônica do pós-vida - Revisita 01

Numa dessas noites perfeitamente normais, Júlio se deitou. No dia seguinte, provavelmente nada ou quase nada mudaria em sua rotina, mas qual foi sua surpresa ao acordar, olhar para baixo e constatar, atônito, o óbvio: estava morto. Comicamente morto, de olhos arregalados e língua para fora, como nos desenhos - assim se encontrava nosso late Julius ; malgrado a surpresa, porém, dirigiu os olhos um pouco mais à esquerda e logo passou a se sentir aliviado. A megera de sua mulher certamente seria, pela manhã, tão intragável quanto as doses do caríssimo whisky que irresponsavelmente havia comprado e se forçado a beber.  Sua morte, então, converteu-se em livramento. Quão bom e misericordioso havia sido Deus! Nota do Autor: O motivo do falecimento não nos importa muito. O que importa mesmo é que lá estava ele, pairando no ar, energia pura, assistindo aos corpos deitados na cama, ouvindo do telhado os gatos miando em agressivas orgias, enquanto toda a casa parecia ter se silenciado apenas para

Russian Doll - Revisita 01

Posts como esse provavelmente serão comuns neste meu pequeno condado na blogosfera, mas, cedendo aos clichês, precisamos falar sobre Russian Doll. Talvez muito, talvez pouco, porque escrevo isso logo após ter terminado o último episódio, mas, antes que me esqueça ou desista de escrever, eis algumas recomendações. Se cuidem, respirem ar puro, sejam bons com seus amigos, se importem com os outros, respeitem seus limites, conheçam a si mesmos, façam terapia e sempre, sempre, sempre busquem melhora. O tempo é relativo e tudo está acontecendo ao mesmo tempo em infinitas realidades diferentes.  É isto. Estou apaixonado pela série e talvez essa paixão passe logo, mas é bom ter um espaço pessoal e quase invisível para comentar para mim mesmo e amaciar meu ego falando sobre o assunto. Quem sabe não falo disso depois? À nefologia!

A Morte

Sou um peso morto. Nesse momento de enfermidade, queria ver-me sozinho e sentir a vida a me engasgar até que, agonizante, morresse e parasse de existir para sempre.

Ansiedade

Eu deveria aprender a descarregar minha ansiedade de forma útil e escrever definitivamente é uma dessas formas. - No que eu estou pensando? Eu diria que em sexo, mas a resposta não seria exatamente verdadeira. Seria mais adequado que estou pensando em minha solidão e solidão por algum motivo me faz pensar em sexo. - Essa é mais uma noite em que eu estou sozinho e é mais uma noite após a qual terei aula. São uma e meia da madrugada e eu não consigo dormir - o que, considerando meu histórico, significa que não vou conseguir dormir tão cedo e, pior ainda, que não conseguirei me manter acordado até a aula ou acordar a tempo de ser o aluno que eu preciso ser. - Eu sinto minhas pernas doerem nesse momento e minha pele estica. Queria estar sob o efeito de alguma droga agora. - Eu não faço a mínima ideia do que estou sentindo ou do que queria estar fazendo agora. Provavelmente queria estar dormindo, mas talvez também gostaria de estar trabalhando em algo interessante que me pagasse bem

Carnaval

No caminho de casa, dentro do ônibus, pensei em escrever uma carta de suicídio. Talvez esta seja uma, porque eu não consigo mais suportar minha vida solitária e este imenso vazio que toma conta de mim diariamente, perceptível ou imperceptivelmente. Mas não. Eu cantarei. Eu escreverei canções. Porque uma pedra não sente dor. - Agora, às cinco e meia da manhã, não quero escrever nada, pois forças maiores que eu tomam conta de mim, mas espero avaliar melhor meu primeiro carnaval em textos futuros. Também espero que esteja tudo bem na Venezuela e que consigamos nos livrar da ameaça fascista que controla o país e que o mundo saiba lidar com esta nouvelle vague .